Análise da economista do Dieese, Vivian Machado traz dados extremamente reveladores da fome de lucro dos bancos.
Os balanços dos maiores bancos do país (Bradesco, Banco do Brasil, Itaú Unibanco e Santander) no primeiro semestre de 2021 demostram forte crescimento em relação ao ano passado.
O lucro dos cinco maiores bancos somou R$ 54,7 bilhões, com alta média de 61,4% em doze meses. O maior crescimento foi da Caixa Econômica Federal (93,4%) e o menor foi do Santander (39,6%).
Os ativos dos cinco bancos somaram quase R$ 8,0 trilhões, com alta média de 3,1% em doze meses. Já as carteiras de crédito dos cinco bancos somaram R$3,7 trilhões, com alta média de 10,9% no mesmo período.
Para ajudar ainda mais, as taxas de Inadimplência caíram, bem como a Provisão para Devedores Duvidosos (PDD), que no caso do Itaú-Unibanco foi de -64,5%. Um cenário magnífico para os bancos, considerando as altas taxas de juros aplicadas no mercado nacional.
Tarifas – Os cinco bancos arrecadaram, juntos, R$ 69,1 bilhões com prestação de serviços e tarifas bancárias no 1º sem/21, com maior crescimento no Santander (11,3%). Assim, essa arrecadação cobre com folga as despesas com pessoal.
Emprego na categoria – Nos últimos anos, observa-se a queda no saldo de emprego na categoria bancária no Brasil. Houve redução de 82.698 postos de trabalho entre 2013 e 2020. Para se ter uma ideia, Bradesco, Caixa e BB fecharam juntos 16.439 postos de trabalho em doze meses.
O Itaú-Unibanco contratou 1268 pessoas no período, porém os números refletem a incorporação da ZUP, empresa da área de TI. Desconsiderando esses trabalhadores, há uma queda de 1.900 postos de trabalho. E o Santander contratou apenas 78 pessoas a mais do que demitiu.
Teletrabalho – Dois terços dos trabalhadores das áreas internas dos bancos seguem em trabalho remoto ou híbrido. Junta-se a isso, o fechamento de 1.647 agências nos últimos doze meses, o que contribuiu de forma significativa para a redução de R$284 milhões em quatro itens de despesas administrativas em doze meses: água, luz e gás; vigilância, segurança e transporte; viagens e materiais.
Tecnologia – Em 2020, os gastos em tecnologia foram de quase R$ 26 bilhões. Uma alta de 8% em 12 meses. Com isso cresceram os canais digitais, bancos digitais, outras plataformas digitais e fintechs dos próprios bancos.
Para José Antonio Fernandes Paiva, presidente do SINDBAN “este cenário dos bancos, associado a uma provável queda no crescimento do PIB para 2022, juros altos e inflação sem perspectiva de desaceleração são um prato cheio para que os bancos continuem lucrando. De outro lado, a tecnologia, o fechamento de agências e o teletrabalho se colocam como pautas principais do debate da categoria”, comentou.
Reajuste – O Acordo Coletivo de dois anos fechado em 2020 garantiu aos bancários este ano reajuste pelo INPC, com previsão de chegar a quase 10%, mais 0,5% de aumento real. Um grande ganho se comparado à média dos acordos coletivos em todo o país. Segundo o Dieese, 32,2% das categorias tiveram reajuste igual à inflação e 50,3% abaixo da inflação.