Matéria corporativa do BB usa foto de fazendeiros fazendo “arminha”

O sistema de comunicação interna do Banco do Brasil, também conhecido como intranet Corporativa, publicou, na terça-feira (18), um texto intitulado “Empatia e proximidade” usando uma foto de produtores rurais fazendo o sinal de armas com as mãos para ilustrar o texto da entrevista com uma gerente de uma das unidades Estilo Agro. O gesto se tornou marca do presidente Jair Bolsonaro.

Em menos de duas horas e após comentários de bancários denunciando a possível apologia à violência e propaganda política, a imagem da matéria foi alterada.

“Lamentável! Entre tantas imagens de produtor rural, do campo, dos meios de produção, escolheu-se uma imagem que instiga violência (simulando uso de armas)”, escreveu um funcionário. “Esse tipo de coisa é totalmente contra a vida e o objetivo do Banco de valorizar a vida e as pessoas. Fazer arminha é privilegiar uma cultura de morte e violência”, destacou outro bancário.

Marca política – Em artigo onde analisou os procedimentos midiáticos de Jair Bolsonaro, a mestre em Comunicação e Informação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Gabriela Dávila, escreveu sobre o uso das mãos para simbolizar armas: “Tal gesto virou uma singularidade durante a campanha de Bolsonaro, sendo sua marca registrada até como presidente eleito, tendo em vista sua promessa de campanha da liberação do uso de armas para todos os cidadãos”.

Não se deve desprezar o impacto dos símbolos. Nosso cérebro, naturalmente, faz o arquivamento dos elementos que recebe de todos os sentidos do corpo.

Os sonhos, por exemplo, são maneiras de lidar com a quantidade de informações que vamos arquivando ao longo do dia. Então, o que tem de grave na popularização do gesto de armas com as mãos? Primeiro, o fato de a arma, em si, ser um objeto que remete muito mais à violência do que à própria segurança.

O segundo agravante é o fato de o próprio chefe de Estado ter como símbolo a arma. Isso pode contribuir para a naturalização mental do uso da violência e da coação como saída para resolução de problemas.

A propagação do sinal da arma pode também prejudicar a imagem que os trabalhadores constroem em relação ao Banco do Brasil, em termos de valores e missão. O que a empresa quer dizer com isso? Ela apoia a violência? Ela apoia a violência no campo? Que mensagem subliminar pode acabar sendo induzida entre seus funcionários?

Assédio eleitoral – A escolha da imagem que remete ao bolsonarismo é preocupante, sobretudo após recente denúncia de trabalhadores que foram solicitados, pelos superiores, a usar camisas de cor amarela durante as atividades do MPE Week e coagidos a postar fotos com a vestimenta em seus próprios perfis nas redes sociais, algo inédito desde que o evento voltado às micro e pequenas empresas foi criado, em 2018.

Estamos vendo agora, nos noticiários, o registro do Ministério Público do Trabalho sobre o aumento de 58% das denúncias de assédio eleitoral. Ou seja, de empregadores exigindo dos funcionários o voto em determinado candidato, sob ameaça de demissão. A avaliação do movimento sindical é que essas atitudes da direção e da comunicação do banco resvalam para a promoção de assédio.

 

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