“Concepção e Causas dos Acidentes do Trabalho”

O acidente de trabalho é um grave problema de saúde pública no Brasil. Atualmente, segundo informações oficiais, em torno de três mil pessoas morrem por ano trabalhando; isso nos anos em que não se tem grande catástrofe. A análise de acidente de trabalho é um excelente instrumento de aprendizado, tanto para o profissional que participa da análise como, e principalmente, para onde o acidente aconteceu. Ela oferece muito insights para este aprendizado. é certo que, o grande problema da análise mal conduzida resulta, por exemplo, na culpa da v ítima e acaba fazendo o oposto do que seria o seu objetivo; estabelecendo uma conclusão em que afirma que o sistema está bem, que não tem problema, e afirma que se o individuo tivesse prestado mais atenção, não teria provocado o acidente. Infelizmente este tipo de conclusão ainda é muito comum nas empresas.
Hoje em dia vemos que os acidentes não ocorrem apenas por atos inseguros ou uma condição insegura; vai muito além disso. Mas a grande maioria ainda segue a abordagem tradicional da segurança do trabalho. Sendo assim, a grande dificuldade é romper com este paradigma e aprender a olhar para o acidente como um fenômeno complexo, produto de uma rede de fatores causais em interação e não como um fenômeno simples e linear. Uma visão tradicional percebe o acidente como um evento simples cujas análises podem ser resumidas em duas ou três linhas que geralmente só descrevam a lesão, de maneira muito restrita e com a agravante de que, na maioria das situações, o que aconteceu é explicado como sendo um produto de um comportamento ou ação do trabalhador, um ato inseguro, uma falha humana ou um hábito fora do padrão. São descrições que vêem o comportamento como resultado da escolha livre e consciente daquele trabalhador. é preciso romper com este paradigma e entender o acidente como um sinal, por exemplo, de uma disfunção no sistema. Um dos grandes nortes de hoje é que a equipe de analise esclareça o ponto de vista de quem estava fazendo o trabalho, ao invés de comparar o que foi feito com o que está prescrito na norma de segurança. é preciso considerar a perspectiva do mundo real: existem razões que explicam o fato de alguém agir de uma maneira e se não explorarmos isso não iremos aprender com os acidentes. De um lado está a abordagem tradicional e, de outro, uma proposição de novos caminhos chamados de abordagem psico-organizacional ou abordagem sistêmica de acidentes.
Cresce a percepção de que o trabalho é fonte constante de eventos imprevistos, não abordados nas regras e que são controlados, pela engenhosidade das estratégias desenvolvidas pelos coletivos de trabalhadores. Ao mesmo tempo, alguns sistemas são vistos como dotados de caracter ísticas estruturais que fragilizam a confiabilidade e a segurança. A segurança formal precisa considerar as atribuições das estratégias operatórias usadas pelos trabalhadores no seu trabalho normal, o conhecimento das fragilidades estruturais desses sistemas. O importante é compreender o que está acontecendo e decidir as correções a serem feitas. Estudos mostram que essas escolhas e ações podem criar risco ou segurança. Então pensar na segurança é pensar esta dimensão real do sistema e ver como é que funciona o trabalho na prática, em uma análise sistêmica antes de concluir um relatório. Devemos parar e perguntar: será que eu analisei também as dimensões organizacionais, individuais e das tarefas daquele sistema? é uma maneira de dar mais opções, evitando que se deixe analisar determinados aspectos em função do encantamento com um determinado fator, do envolvimento mais forte com uma determinada hipótese.
A análise de mudanças e a análise de barreiras são fundamentais para entender as teorias que orientam as análises de acidentes. A idéia da análise de mudanças parte do pressuposto de que toda vez que acontece um acidente em um determinado sistema tem que ter ocorrido alguma mudança na maneira como o sistema estava funcionando. Então, analisar um acidente é identificar o que foi que mudou no sistema e quais as condições que permitiram as mudanças. Assim, ela sempre deverá investigar as causas das causas.
Já a análise de barreiras considera que em todo o acidente existe a possibilidade de se ter algum evento nocivo ou uma forma de energia que pode atingir a v ítima e provocar o dano. O sistema deveria sempre ser submetido à análise prévia de segurança para identificar estes eventos nocivos e criar barreiras contra a possibilidade da liberação daquela energia em potencial, do descontrole daquele agente nocivo que poderá atingir a pessoa exposta. Analisar o acidente sob esta perspectiva é identificar quais eram os fatores de risco que existiam no local, quais as barreiras que foram criadas para controlá-los, e ao mesmo tempo, quais as que sanaram ou as que faltaram naquele sistema. Estas duas abordagens se complementam na construção de uma análise bem feita e atual, que vai muito além de atos ou condições inseguras.

Bibliografia: palestra da profa.dra. Maria Cec ília Binder;
Sobre concepções e causas de acidentes de Trabalho apresentado em 07/03/07 em piracicaba
Revista proteção edição nº 179, entrevista do prof. Da disciplina medicina do trabalho, da faculdade de Botucatu, expert em análise de acidentes Ildelberto Muniz de Almeida

Autora: Priscila Gomes da Silva Rodrigues é estudante do curso Técnico de Segurança do Senac
Esta redação foi a vencedora do concurso promovido pelo Núcleo de Comunicação sobre os programas de segurança e saúde do trabalhador, que envolve o CEREST, Comsepre e Conespi. A vencedora recebeu um prêmio de R$ 750,00 do Conespi (Conselho das Entidades Sindicais de Piracicaba).

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