A autoestima e a capacidade de estar só

13/04/2017 – 13:39

Quando o sindicato nos pediu para escrevermos um artigo sobre mulheres, logo pensei em discorrer sobre esse tema tão comum que vem chegando no consultório, vindo a maioria das vezes por mulheres agoniadas e ameaçadas pela idéia de se verem sozinhas.

Independente de idades, essas mulheres trazem angústias profundas, evitam separações de relações que se legitimaram como fracassadas e preferem se manterem nelas, pelo medo de estarem sozinhas ou só se permitindo romper quando “engatam” em outro relacionamento, assim não permitindo viver o tempo necessário para estarem com sua própria companhia, confundindo estar só com desamparo e solidão.

Winnicott, psicanalista inglês, escreveu em 1957 que a “capacidade de estar só” é um fenômeno altamente sofisticado. Esse tema é dif ícil de defender nos dias de hoje , pois as pessoas lutam desesperadamente para escapar de qualquer sentimento de solidão.

Essa capacidade é algo a ser conquistado, pois “estar só” está ligado a apreciar a solidão, curtir sua prória companhia, poder usar o silêncio, criatividade ou o próprio ócio pelo simples prazer de estar sozinha.

Hoje em dia algumas mulheres acabam escolhendo viver relacionamentos razos ou destrutivos e mesmo assim se sentem sozinhas, sem parceria, companheirismo ou identificação com o namorado/marido. Quer maior agonia que essa? Ter e não ter!

Winnicott desenvolve a teoria que essa capacidade de estar só se desenvolve bem lá atrás, nas primeiras experiências do bebê, quando seu frágil ego ainda é compensado pelo da mãe. Seria, portanto a capacidade desta em oferecer ao bebê a confiança no existir e na vida, que vai possibilitar a introjeção de um s ímbolo da própria mãe, carregando a consigo como representação da confiança que tem em si mesmo e no mundo, ou seja, a confiança conquistada à partir de experiências satisfatórias que tiveram em um ambiente inicial é a base para o desenvolvimento desta capacidade e da auto estima.

A formação da adequada autoestima depende profundamente do olhar amoroso de apreciação por uma pessoa significativa, a mãe, porque nunca é com seus próprios olhos que a criança se vê, mas sempre com os olhos do outro. Dependendo do tipo de olhar ou a falta dele, vai se dando auto estima mais elevada ou não.

Relacionamentos “barulhentos” ou superficiais, podem revelar tambem uma incapacidade de relaxar, de ter um recolhimento necessário para a própria integração da personalidade, mas “estar só” nos dias de hoje tambem pode ser encarado como depressão ou até rótulos como por exemplo: “aquela mulher que não deu certo com ninguem”, em uma completa inversão de significados.

A pessoa se cobra para encontrar alguém, afeta diretamente sua autoestima, como se tivesse algo errado com ela e imagina que os outros ao redor pensam o mesmo, ou seja, a julgam como as vezes ela própria se julga. Mesmo em relacionamentos, a mulher com baixa estima, pode vir a se comportar de uma maneira inquietante e ansiosa, em casos mais graves como o Transtorno Borderline, que afeta em maior parte a população feminina, uma simples mensagem enviada que leva minutos para ser respondida já é o suficiente para abalar sua estima, sentindo-se sem importância ou rejeitada pelo outro. Nesses casos, a mulher foi “deixada”, vive inconscientemente uma fantasia de que com a separação o outro levou sua autoestima embora, então precisa ter de volta, não o outro e sim sua autoestima e só assim não se sentirá rejeitada e desamparada. Talvez por essa pessoa não exista amor, mas sim necessidade e dependência nesse sentido, pois como se sente desintegrada, fica na dependência que o outro volte, tire a sua posição de rejeição e ilusoriamente vai viver a ideia de se sentir “completa” novamente.

Enfim, se somos capazes de estar só, é porque um dia pudemos experimentar segurança, sustentação e amor, do contrário é necessário buscar construir esse amor próprio. Tem uma frase que desconheço o autor e que gosto muito:

“Para se viver a dois, antes é necessário ser um só!”

Gostar de si mesmo, acreditando nos seus recursos internos e se respeitar, são elementos básicos da definição de autoestima. Ela determina como as pessoas se relacionam com o mundo e seus v ínculos.

Muitas mulheres que recorrem a cuidados excessivos, como corpo, cabelo e consumismo de roupas. Essas mulheres por terem grandes dificuldades internas, costumam “olhar para fora” e vivem em uma constante busca de preenchimento de vazios, sendo que a idéia base para estar genuinamente bem, é “olhar para dentro”, mas essa proposta é delicada, pois envolve coragem de mergulhar profundamente dentro de si mesmo.

Concluo que uma autoestima elevada, pode trazer para a mulher tranquilidade e um m ínimo de sofrimento em situações diversas, tornando-a mais segura, independente do olhar do outro, pois seu olhar para si mesmo é o suficiente para viver e se relacionar.

Os ditados como: “Encontrar a tampa da panela”, ” Metade da laranja”, não fazem sentido no meu ponto de vista, pois torna a mulher mais vulnerável e dependente emocionalmente, precisando de um outro que a preencha ou complete, sendo que se estiver integrada com todos os recursos e valores que tem, não dependerá do outro para preencher buracos e vazios e sim desejará viver v ínculos genu ínos onde o outro agregue, não complete!

Conquistar uma boa autoestima é descobrir o quanto de recursos incr íveis cada uma tem e ser sinônimo de possuir uma vida ps íquica saudável, então se cuidem e “olhem para dentro”!

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