Após conquistar espaço, cooperativa de crédito tem internet banking

Engana-se quem pensa que cooperativas de crédito são instituições com pouca tecnologia bancária, que limitam-se a captar depósitos e dar crédito. Agrupadas em grandes sistemas para ganhar escala, elas se sofisticaram e hoje conseguem oferecer o mesmo leque de principais produtos e serviços dispon íveis nos grandes bancos. Acesso à conta pela internet, movimentação remota de depósitos inclusive por telefone móvel, programação de pagamentos e débito automático já são operações básicas nas cooperativas.

Muitas oferecem aos associados fundos de investimento, cartão de crédito, consórcios, seguros, previdência complementar e, para empresários e produtores rurais, até operações de câmbio de financiamento de exportações (ACC), diz Márcio Freitas, presidente da Organização das Cooperativas do Brasil (OCB).

Isso é poss ível porque os sistemas cooperativos são donos de bancos com carteira de câmbio e de empresas de previdência, de gestão de fundos, de administração de consórcios, de cartões e corretoras de seguros. Os bancos cooperativos têm capital necessariamente controlado por cooperativas de segundo grau, as chamadas centrais, formadas pela associação de cooperativas de primeiro grau (as singulares).

As singulares são as cooperativas propriamente ditas, compostas por trabalhadores, produtores rurais, empresários ou pessoas sem outro v ínculo. As empresas que viabilizam os diversos produtos e serviços financeiros adicionais a depósitos e crédito são em geral de propriedade de cooperativas centrais ou de bancos cooperativos, embora cooperativas singulares e confederações também possam ser donas de empresas não bancárias para prestar serviços complementares a associados.

As confederações são cooperativas de terceiro grau, formadas pela associação entre centrais. Nos grandes sistemas, são elas que dão escala às operações, concentrando o processamento das transações de todas as cooperativas a ela ligadas, além de ajudar o BC na supervisão. Cada confederação, com suas centrais e singulares, representa um sistema de crédito cooperativo. Existem também sistemas menores, que vão apenas até o n ível de cooperativa central.

Dos quatro grandes sistemas de crédito cooperativo apontados pelo BC, dois têm banco. Maior de todos, o Sicoob, cujas cooperativas centrais são donas do Bancoob, é integrado por 541 cooperativas singulares, segundo dados do BC. As cooperativas centrais que formam a confederação e sistema Sicredi controlam o Bansicred e resultam da associação entre 114 instituições singulares. Já o sistema da confederação Confesol é composto por 189 singulares, e o da Unicred, por 98, ainda conforme o BC.

Cada um dos quatro sistemas envolve ainda um fundo garantidor de créditos. Esses fundos estão em processo de unificação; vão virar o FGcoop, equivalente ao FGC dos bancos.

Outras 61 cooperativas agrupam-se em seis sistemas menores, encabeçados por instituições de segundo grau, a maioria com abrangência apenas num Estado. Há ainda 233 cooperativas singulares independentes, ou seja, não ligadas a centrais, mas que podem contratar serviços de centrais e de confederações.

Na visão de Marden Marques Soares, diretor de desenvolvimento organizacional do Sicoob, diferentemente do que muita gente pensa, as cooperativas de crédito, pelo menos na maioria, “não são ferramenta de inclusão financeira da população carente”. O n ível de renda do público dessas instituições “está um pouco acima”. Na sua opinião, elas geram inclusão, sim, mas por causa do aspecto geográfico, pois têm forte atuação em munic ípios aos quais os “bancões” dão pouca atenção.

Mais do que a diversificação de produtos e serviços, o que tem ajudado o cooperativismo de crédito a crescer no Brasil é o próprio modelo societário, disse Ademar Schardong, presidente-executivo do Sicredi. Cooperativas só podem dar crédito a seus próprios associados, que são os donos do negócio. Em função dessa caracter ística peculiar, os recursos são aplicados no próprio local, “de acordo com a vocação econômica e cultural da região”, disse ele. As necessidade locais são atendidas também porque o processo decisório de aplicação do dinheiro é inclusivo. Independentemente do capital investido, cada associado tem o mesmo poder, pois vale a regra “uma pessoa, um voto”, explicou Shardong.

A distribuição de lucros também segue lógica diferente da dos bancos. Os resultados são partilhados entre todos os associados, de acordo com a intensidade de relacionamento de cada um com a entidade.

Os novos parâmetros de prudência definidos para o segmento permitiram retomar a constituição de cooperativas de livre admissão de associados, possibilidade que tinha sido vedada pelo regulador, o Conselho Monetária Nacional, em 1992. A criação de cooperativas que não exigem v ínculo anterior entre os associados – qualquer pessoa que seja da área geográfica abrangida pela cooperativa pode participar – tem impulsionado muito a expansão do crédito cooperativo no pa ís, afirmou Luiz Edson Feltrim, diretor de relações institucionais do BC.

Enquanto o número de cooperativas de outros tipos se reduziu, o de cooperativas de livre admissão aumentou nos últimos anos, ultrapassando o de cooperativas de crédito rural (ver quadro). No fim de 2005, elas eram 55 apenas. No fim de 2007, já eram 131 e em setembro de 2012, 269.

O tipo que predomina ainda é, no entanto, o de cooperativas de empregados, ou seja, que se caracterizam pelo v ínculo de trabalho comum dos cooperados.

A presença das cooperativas de crédito é mais forte no Sul e Sudeste do pa ís, onde elas estão, respectivamente, em 87,1% e 50,7% dos munic ípios. O diretor do BC destacou que elas fazem diferença para o desenvolvimento econômico local principalmente fora das regiões metropolitanas.

As cooperativas são mais capitalizadas que o conjunto do sistema financeiro proporcionalmente ao volume de ativos ponderado pelo risco. Oíndice de Basileia do segmento chegava a 27,2% em junho de 2012, ante 17,1% do total do SFN. Há, portanto, folga de capital no segmento, o que dá ao BC tranquilidade para que o processo de expansão continue. O m ínimo exigido em norma, no caso das cooperativas, pode chegar a 15% (maior que o dos bancos, de 11%), caso das cooperativas singulares não filiadas a centrais.

Fonte: Valor Econômico

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