Dirigentes da Febraban e do Banco Central discutiram ontem, em Bras ília, o adiamento da implementação das novas regras de capitalização dos bancos públicos e privados preconizadas no acordo de Basileia 3. Algumas medidas começariam a vigorar a partir de janeiro de 2013, mas vários pa íses, inclusive os Estados Unidos, já anunciaram que vão postergá-las. Outros, como China, Japão e Austrália, vão obedecer os prazos originais. O BC teria que divulgar as normas definitivas que pretende adotar ainda este ano, assim como a data de partida para sua vigência. Os bancos querem a prorrogação, sobretudo da readequação dos créditos tributários. A resposta deve ser dada nos próximos dias.
O Ministério da Fazenda também discute com o Banco Central esse cronograma, preocupado com dois impactos: sobre os bancos públicos -; que podem requerer nova capitalização pelo Tesouro Nacional -; e com o risco de maiores restrições à expansão do crédito no ano que vem, num momento em que a oferta, pelos bancos privados, cresce apenas 3%.
Apesar da solidez do sistema bancário brasileiro, a qualidade do capital exigida por Basileia 3 vai demandar um esforço redobrado de capitalização, pois parte do patrimônio de referência do sistema está fora dos padrões exigidos por Basileia 3. E isso representará menos disponibilidade de recursos para financiar as fam ílias e as empresas do pa ís, com impacto sobre o crescimento econômico.
Cerca de 40% dos R$ 500 bilhões de patrimônio de referência (PR) são representados por créditos tributários (R$ 90 bilhões) e d ívidas subordinadas (R$ 110 bilhões). Ambos são, atualmente, contabilizados como capital m ínimo. No cronograma original do BC, os bancos teriam que desconsiderá-los gradualmente a partir de 2013, concluindo esse processo em 2017.
Há, porém, uma intrincada negociação com a Receita Federal sobre os créditos tributários. Para o BC, os bancos são obrigados a fazer provisão para inadimplências a partir de 90 dias. Para efeito de cobrança de impostos (Imposto de Renda, PIS, Cofins, CSLL), porém, o fisco é mais rigoroso e só admite a contabilização dos créditos de devedores duvidosos como preju ízo depois de esgotados todos os processos de cobrança administrativos e judiciais, o que em geral demora cerca de um ano. O crédito tributário é, assim, uma d ívida do Tesouro Nacional com o sistema bancário gerada por um pagamento antecipado de imposto sobre créditos que exigirão provisionamento e, portanto, serão considerados preju ízos. Os bancos defendem que a regra da Receita Federal para o tratamento tributário sobre provisão seja mais próxima da do BC. Se concordar, o fisco perderia em antecipação de receita cerca de R$ 60 bilhões.
Ontem pela manhã, o presidente da Febraban, Murilo Portugal, acompanhado de Marcos Lisboa, vice-presidente do Itaú Unibanco, de Osvaldo Assis, do BTG Pactual, e de Júlio de Siqueira Araújo, do Bradesco -; todos da diretoria da federação -;, estiveram com o diretor para Assuntos Internacionais do Banco Central, Luiz Pereira Awazu. Hoje à tarde, Portugal esteve novamente com o diretor do BC, em São Paulo.
Fonte: Valor Econômico