O movimento sindical precisa acumular forças para enfrentar as contradições da sociedade e pressionar o governo federal em defesa da agenda que interessa aos trabalhadores. Nesse sentido, a Campanha Nacional dos bancários é um dos eventos mais importantes que acontecem neste segundo semestre de 2011. A opinião é do deputado federal Ricardo Berzoini (PT-SP), funcionário do Banco do Brasil e primeiro presidente da Confederação Nacional dos Bancários (CNB-CUT), que falou na abertura conjunta do 22º Congresso Nacional dos Funcionários do Banco do Brasil e do 27º Congresso Nacional dos Empregados da Caixa, realizada neste sábado, 9, em São Paulo. Berzoini também ressaltou em sua análise de conjuntura o debate fundamental sobre o Sistema Financeiro, que tem potencial para modificar a sociedade brasileira.
Segundo Berzoini, nos governos anteriores ao de Lula, discutiam-se questões referentes à estagnação e desregulamentação, e com o governo Lula houve uma mudança de perfil. “Até 2002, com pequenas nuances, tivemos essencialmente um modelo econômico e pol ítica de concentração de renda. A cada ano aumentava à desregulamentação, a informalidade, a renda estagnada ou decadente”, disse.
‘Há muito espaço para crescimento’
O parlamentar recordou que, quando FHC tomou posse, em 1994, 53% da população economicamente ativa (PEA) trabalhavam em empregos formais. Quando Lula chegou à presidência, em 2003, o número havia ca ído para 41% da PEA. “Durante o governo, emprego formal retomou o patamar anterior, com 52,7%. é inegável que houve mudanças, ainda que não esteja como desejamos. Há muito espaço para crescimento, modificar a questão do crédito e melhorar a distribuição de renda. Mas, para isso, é necessário compreender como é as mudanças aconteceram”, diz.
Para ele, houve uma mudança antagônica em relação ao mercado de trabalho e, com esse cenário mais favorável, os trabalhadores passaram a discutir outros assuntos. “Na categoria bancária, por exemplo, acabou a profecia de que o trabalho bancário iria acabar, voltou a crescer emprego no setor”, exemplifica.
O deputado ressaltou a contradição existente no cenário pol ítico brasileiro, e que deve ser enfrentada pelos trabalhadores. “Temos um governo de hegemonia de esquerda, mas congresso de maioria de direita. Mas não é preciso deixar de ser cr ítico para defender o projeto do governo. Não é um processo binário que garante avanços para a classe trabalhadora”, afirmou. “Mesmo sendo um deputado da base governista, defensor do governo Dilma, faço o enfrentamento nas questões importantes, como é o caso dos correspondentes bancários. é fundamental que o movimento sindical acumule força para enfrentar as contradições da sociedade e pressionar o governo para o nosso lado”, defende.
PL sobre correspondente bancário
Berzoini é autor do Projeto de Decreto Legislativo (PDL) nº 214/2011, que suspende recente resolução do Banco Central (BC) sobre a figura do correspondente bancário. “Hoje qualquer banco pode ter correspondente bancário. é preciso que o movimento sindical se manifeste junto ao governo. O BC não pode funcionar como agência de proteção aos interesses dos banqueiros”, ataca.
Reforma pol ítica
Berzoini defendeu a reforma pol ítica como fator importante na consolidação da democracia no pa ís. “Hoje, a composição do Congresso é conseqüência do acesso de cada deputado a financiadores de campanha. O financiamento público aumenta essa possibilidade”, analisa. “A reforma pol ítica é essencial para os trabalhadores, mas quem vai votar a reforma é o Congresso. Todos nós parlamentares fomos eleitos nesse sistema e muitos estão acostumados a ele. Por isso, é preciso que os trabalhadores e a sociedade pressionem.”
Para o deputado, o Brasil precisa de um programa que qualifique o projeto de desenvolvimento. “Temos que ser uma das quinze economias que melhor distribuem renda. é preciso politizar os debates e construir estratégias para acumular forças”, afirma.
Regulamentação do sistema financeiro
A regulamentação do sistema financeiro foi considerada como fundamental pelo parlamentar. “O sistema financeiro é fonte de todas as crises que tivemos nos últimos anos, cujas contas invariavelmente foram para os trabalhadores. O Brasil tem que tomar cuidado. Se não avançar na regulamentação, mesmo com o endividamento baixo em relação a pa íses da Europa, em alguns anos podemos enfrentar situação em que o governo terá que fazer opções. E com a coalizão heterogênea que o constitui, sempre há risco dele fazer a opção errada. Esse risco só é superado se o governo tiver base social. Sem pressão pela base dos trabalhadores, o governo vai fazer a opção errada e sofreremos as consequências”, alerta.
Berzoini considerou muito importante a realização de uma conferência nacional sobre o sistema financeiro, proposta pela Contraf-CUT, e aceita por toda a central. “Precisamos envolver toda a sociedade nesse debate, que é fundamental para o futuro do pa ís.”
Fonte: Rede de Comunicação dos Bancários