Caixa planeja “complementar” BNDES

A Caixa Econômica Federal, que sempre se destacou por financiar habitação e saneamento básico, quer aumentar sua presença no financiamento da infra-estrutura energética e log ística do pa ís, atuando complementarmente ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Nos últimos três anos, diversos investimentos privados nessas duas áreas foram financiados pela instituição, com recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) e repasses do BNDES. Afinada com a preocupação do governo de criar condições para aceleração do crescimento econômico, a Caixa agora estuda lançar mão também de recursos próprios. “Estamos estudando a possibilidade de usar recursos de tesouraria nesses financiamentos”, anunciou ao Valor, Jorge Fontes Hereda, vice-presidente do banco para assuntos relacionados ao governo. Demanda é o que não falta. Só os projetos de energia recebidos e em fase análise pela Caixa pedem crédito de R$ 4,1 bilhões, informa o superintende nacional de infra-estrutura, Rogério Tavares. Inclu ída a parte que não será financiada pela instituição, esses projetos, que são ao todo 33, representam investimentos de R$ 14,1 bilhões, acrescenta ele. Segundo Hereda, além de atender a procura já existente, a Caixa pretende disputar a demanda que certamente surgirá em função das novas concessões de rodovias federais a empresas privadas. Com licitações previstas para novembro desse ano e abril do ano que vem, as duas próximas levas de concessões rodoviárias foram anunciadas pela ministra Dilma Roussef, da Casa Civil, na semana passada, e envolvem 4 mil quilômetros de estradas, em cinco Estados. O vice-presidente da Caixa acredita que a maior parte dos projetos do setor energético em análise pelo banco poderá se encaixar na carteira do Fundo de Investimento em Infra-estrutura do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FI-FGTS) – que é operado pela Caixa e deve entrar em funcionamento esse ano. O FI-FGTS foi criado por lei espec ífica, no ano passado, e dispõe de R$ 5 bilhões do patrimônio l íquido do FGTS para investir em transporte, energia e saneamento. A seleção dos projetos a serem atendidos, no entanto, não depende só da Caixa. Depende do respectivo comitê de investimento, submetido ao Conselho Curador do FTGS, orgão tripartite formado por representantes do governo, trabalhadores e empresários. O que a Caixa tentará atender com recursos próprios é a parcela dos R$ 4,1 bilhões que não for poss ível financiar através do FI-FGTS . Para tanto, “poderemos usar dinheiro que hoje está aplicado em t ítulos públicos”, afirma Hereda. Ele defende que, com a queda já ocorrida das taxas de juros da economia, o banco precisa diversificar seus ativos e reforçar operações de crédito, que proporcionam mais rentabilidade do que os t ítulos de d ívida pública. Isso será ainda mais necessário na medida em que o Banco Central puder retomar os cortes na taxa básica de juros, o que ele espera que aconteça ainda este ano, se não houver deterioração do cenário em função da economia americana. Certamente o custo da nova linha da Caixa para as empresas tomadoras não será tão baixo quanto o dos financiamentos com recursos do FAT e do BNDES, reconhece Hereda. Mas ele acredita que seja poss ível chegar a uma taxa ao mesmo tempo compensadora para o banco e competitiva quando comparada a outras fontes não-subsidiadas de crédito. Ele destaca que a Caixa tem um importante diferencial em relação aos bancos privados e mesmo em relação a outros bancos públicos: um grande corpo técnico especializado em analisar projetos de infra-estrutura e acompanhar e fiscalizar as respectivas obras. Afinal, é a instituição que faz esse serviço para o governo federal, no caso de boa parte das obras públicas. Para reforçar esse corpo técnico, que agora já ultrapassa 3 mil profissionais, o banco contratou recentemente cerca de mil engenheiros e arquitetos, informa o vice-presidente. De 2005 a 2007, a Caixa financiou, com recursos do FAT e repasses do BNDES, 23 empreendimentos privados em energia. A maioria são pequenas centrais hidrelétricas (19), três são de energia eólica e um de construção de 28 quilômetros de linha de transmissão. Somados, esses investimentos demandaram da Caixa R$ 1,1 bilhão em financiamentos e custaram, no total, R$ 1,73 bilhão a seus empreendedores. Os financiamentos à infra-estrutura log ística, no mesmo per íodo, foram três, no montante de R$ 436,92 milhões, todos para empresas concessionárias de rodovias estaduais paulistas. Os três projetos envolveram no total investimentos de R$ 1,488 bilhão e propiciaram obras em 1,12 mil quilômetros de estradas.

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