A diretora do SindBan e bancária no Bradesco, Fernanda Castro, conquistou a inclusão da clínica especializada em Transtorno do Espectro Autista (TEA) no plano de saúde Bradesco. A unidade está localizada em Piracicaba e essa é mais uma vitória do Sindicato por meio de todos os seus diretores. A responsável pela clínica contou um pouco como é o trabalho e falou sobre o atendimento especializado na clínica.
Karoline Moraes Rossini, psicóloga e professora universitária, é também diretora da clínica Nexo Instituto de Psicologia Aplicada, em Piracicaba. A profissional é mestre em Psicologia do Desenvolvimento Humano e especialista em Análise do Comportamento Aplicada (ABA) — abordagem que embasa o atendimento de crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA).
Em sua rotina clínica, Karoline realiza um trabalho que vai além do atendimento individual. Ela oferece acompanhamento, suporte e acolhimento às famílias que recebem o diagnóstico de TEA, muitas vezes sem saber por onde começar.
“Tudo se inicia com uma triagem. É o momento de escutar, compreender a criança, conhecer os cuidadores e alinhar expectativas em relação ao tratamento”, explica.
Após a triagem, a psicóloga conduz uma avaliação minuciosa, que é atualizada sistematicamente ao longo do tempo. Nessa fase, são colhidas informações sobre o histórico da criança, suas habilidades desenvolvidas e aquelas que ainda precisam de intervenção. Com base nesses dados, é elaborado um Plano Terapêutico Individualizado, com objetivos específicos para cada criança.
Segundo a especialista, o autismo é um transtorno do neurodesenvolvimento que pode impactar diversas funções cognitivas e comportamentais.
“O TEA pode afetar a atenção, memória, linguagem, percepção sensorial, solução de problemas e interação social. É um espectro justamente porque varia muito de uma criança para outra”, explica Karoline.
As causas do autismo são complexas e multifatoriais, envolvendo fatores genéticos, ambientais e biológicos. Entre as características mais comuns observadas estão:
- Alterações sensoriais (hiper ou hipossensibilidade a estímulos);
- Redução da motivação social;
- Déficits na linguagem e comunicação;
- Rigidez cognitiva;
- Comportamentos repetitivos ou interesses restritos.
A Análise do Comportamento Aplicada (ABA) é o principal método utilizado pela clínica. Diferente de abordagens punitivas, a ABA trabalha com reforço positivo e aquisição de novas habilidades.
Entre as habilidades desenvolvidas estão:
- Atenção: contato visual, esperar, permanecer sentado;
- Imitação;
- Linguagem expressiva e receptiva;
- Habilidades pré-acadêmicas;
- Brincar funcional, simbólico e compartilhado;
- Comunicação espontânea.
Karoline enfatiza que trabalha com base em três pilares fundamentais: o desenvolvimento individual da criança, as habilidades sociais e a orientação à família.
A neuroplasticidade — capacidade do cérebro de se reorganizar e se adaptar — é um fator-chave no sucesso do tratamento. “Quanto mais cedo os estímulos começarem, maiores são as chances de desenvolvimento. A janela dos 7 meses aos 2 anos é especialmente rica em conexões sinápticas e respostas positivas aos estímulos”, destaca.
Por isso, a psicóloga orienta que as famílias procurem ajuda profissional imediatamente após o diagnóstico, mesmo que o quadro ainda seja leve.
Embora o autismo não tenha cura — por se tratar de uma condição, e não de uma doença — é possível observar avanços significativos com o tratamento adequado.
“Uma criança que está no nível 3 de suporte pode, com o tempo e as intervenções corretas, alcançar o nível 2 ou até o nível 1. Isso significa mais autonomia, melhor qualidade de vida e participação social”, explica.
O tratamento ideal é multidisciplinar e requer envolvimento ativo da família, inclusive no ensino de habilidades como o “esperar”. Essa, embora simples para a maioria das crianças, pode ser extremamente desafiadora para aquelas com TEA.
Além da terapia, manter uma rotina previsível e estável é essencial. A prática de atividades físicas também é altamente recomendada, contribuindo para a regulação da ansiedade, foco e até habilidades socioemocionais como lidar com frustrações.
Entretanto, Karoline alerta para os altos níveis de estresse enfrentados por famílias de crianças com autismo. A sobrecarga física e emocional, combinada à falta de rede de apoio e julgamentos externos, intensifica a angústia sobre o futuro dos filhos.
A psicóloga reforça que o respeito às pessoas com TEA — sejam crianças ou adultos — passa por ações simples, porém eficazes:
- Evitar toques sem consentimento;
- Reduzir ruídos e estímulos visuais;
- Oferecer previsibilidade e explicações claras;
- Respeitar o tempo de resposta de cada um.
“Inclusão significa adaptar o ambiente e a postura para que todos se sintam respeitados. É possível fazer isso em escolas, empresas, bancos, no comércio. Tudo começa com empatia e informação”, conta Karol.