Inara Fabiana tem 21 anos. Aos 17 terminou o ensino médio na rede pública de Educação de Piracicaba e prestou a prova do Enem. Queria realizar seu sonho de cursar Gastronomia. Foi classificada para uma universidade no Estado do Rio de Janeiro. Não teve condições de estudar e morar longe da fam ília.
Mãe da Helena -; de três meses -, Inara foi demitida ainda grávida, quando trabalhava como caixa de um supermercado no in ício deste ano.
A CLT garante estabilidade para mulheres gestantes. Ao demitir a empregada gestante, a empresa deve obrigatoriamente reintegrar a funcionária ou então pagar uma indenização referente a todo o per íodo de estabilidade. Mas por conta da pandemia, Inara não conseguiu ainda buscar seus direitos na Justiça. Está sem emprego e sem receber.
Ocupação – Seu companheiro, pai da Helena, trabalha em uma empresa que produz embalagens para pizzas. Com a chegada da filha, o casal teve que deixar a casa da mãe de Inara para se arriscar na Ocupação Renascer, na região Oeste de Piracicaba.
Num barraco de madeirite de um cômodo vivem os três. Ali não tem creche, não tem água encanada, a energia é clandestina e o poder público municipal não levou nenhuma pol ítica pública para amenizar a situação de cerca de 300 fam ílias.
Visita – Para conhecer essa realidade, Inara propôs aos diretores do Sindban uma visita à ocupação que aconteceu na manhã desta quarta-feira, 17/6.
Ela e outras lideranças mostraram que há um cadastramento das fam ílias e que os barracos estão numerados. Juliana Garcia de Oliveira conta que um levantamento prévio já cadastrou crianças e jovens. Até o momento são 234 entre zero e dezoito anos.
Grande parte das fam ílias têm os filhos matriculados na rede pública de Ensino. Entretanto, com a pandemia, as crianças permanecem a ocupação e muitas vezes sem atividades de ensino, já que não possuem acesso à internet para frequentar as aulas virtuais. Da escola, algumas fam ílias conseguem um kit que corresponde à merenda oferecida no per íodo de aulas.
Saúde – Um grupo de mães está tentando construir um espaço para que agentes de saúde possam visitar a ocupação e verificar as carteiras de vacinação das crianças. Elas querem ainda oferecer palestras de orientação.
Festa -; Um dos pedidos dos moradores é ajuda para a realização de uma festa Drive Thru para as crianças. Elas têm doações de bombons, mas precisam de outros itens para atender todas elas.
Horta -; Já tiveram in ício a criação de algumas horas comunitárias, com ajuda de especialistas na área, com o objetivo de melhorar a qualidade da alimentação das fam ílias.
Doações -; Também já começou a construção de um pequeno espaço para armazenar as doações que chegam, desde madeirite, agasalhos, roupas e outros utens ílios. Segundo Juliana, há um controle para que as doações cheguem realmente a quem mais precisa.
Reintegração -; A grande ameaça ao sonho da moradia das fam ílias da ocupação é a reintegração de posse da área que, há muitos anos, estava abandonada pelos proprietários. A luta é para que o poder público a declare o local como de interesse social e possa desapropriá-lo para moradia.
Os proprietários conseguiram a reintegração de posse, mas ela só poderá ocorrer com o fim da pandemia. Esse tempo é precioso para sensibilizar o poder público sobre a necessidade de um projeto de moradia ali.
Ajuda – O Sindban, como sempre fez ao longo de sua história, está mobilizando a categoria e parceiros para conseguir todo tipo de ajuda aos moradores da Ocupação Renascer. A situação se agrava durante o inverno porque os barracos não têm isolamento térmico adequado.
A Ocupação Renascer é mais uma demonstração de que há necessidade de ampliação das pol íticas públicas de moraria e transferência de renda. Assim, as fam ílias mais vulneráveis, ainda mais em tempos de pandemia, podem vir a ter melhores condições de vida.