Núcleo de Saúde do SindBan debate impactos da tecnologia na saúde mental das crianças e reforça importância do brincar criativo e do brincar coletivo, com outras crianças

Obra que inspirou discussão revela quatro prejuízos centrais que resultam do uso excessivo de telas

O Núcleo de Saúde e Qualidade de Vida do Sindicato dos Bancários de Piracicaba e Região (SindBan) promoveu, nesta sexta-feira (28), um encontro para discutir o impacto da tecnologia na saúde mental das crianças, inspirado no livro Geração Ansiosa, de Jonathan Haidt, lido pela psicóloga Beatriz Gaspar.  A atividade contou com a participação dos osteopatas Vinicius Boldrin e Gabriel Posse, das psicólogas Danielle Pagotto, Gisele Bueno e Igor Bernardi, a nutricionista Eleonora Dias, além da assistente administrativa Dafni Fernanda.

A obra mostra a substituição da “infância do brincar” pela “infância do celular”, marcada por hiperconectividade e prejuízos ao desenvolvimento infantil. Haidt aponta impactos distintos: redes sociais afetam mais as meninas, enquanto muitos meninos se isolam no mundo virtual. Diante disso, o autor defende uma ação conjunta de famílias, escolas, profissionais e governos para proteger o bem-estar das crianças e da sociedade.

Durante o encontro, Beatriz Gaspar enfatizou a importância do brincar criativo e da convivência presencial entre crianças. Para ilustrar a gravidade do problema, citou uma provocação do próprio Haidt: “Se a internet fosse um planeta desconhecido, você deixaria seu filho lá sozinho?”, questiona a profissional.

Beatriz destacou que o problema não se resume ao uso de telas, mas também às transformações no comportamento dos adultos, que frequentemente substituem o contato visual e a presença afetiva pelo uso constante do celular. “O brincar da criança é muito sério, pois faz parte do desenvolvimento e constituição do psiquismo”, afirmou. Bia explicou que o bebê aprende sobre presença e ausência desde cedo, e a falta dessa presença pode gerar experiências desorganizadoras, refletindo futuramente nas relações sociais.

Para a psicóloga, as brincadeiras entre crianças são fundamentais porque ensinam a criar regras, resolver conflitos e a desenvolver confiança — habilidades essenciais para a vida adulta. Quando esse aprendizado não ocorre na primeira infância, torna-se mais difícil enfrentar desafios mais complexos ao longo da vida.

O debate incluiu também reflexões sobre o impacto dos jogos online e da exposição precoce a conteúdos inadequados. Beatriz destacou que jogar videogame com os pais ou amigos pode ser saudável, desde que existam regras e limites claros. No entanto, alertou que a lógica dos jogos — em que se “morre” e volta — não prepara a criança para lidar com frustrações e riscos reais.

Ela lembrou ainda que muitos cuidadores temem os supostos perigos das brincadeiras dos parquinhos, mas os profissionais argumentam que é justamente ali, ao subir, escalar e até ralar o joelho, que a criança aprende a lidar com riscos, frustrações e conquistas, elementos essenciais para o desenvolvimento emocional.

Hoje, porém, o mundo virtual tem capturado a atenção tanto das crianças quanto de seus cuidadores, contribuindo para relações mais superficiais e imediatistas.

A busca pelo “like” como forma de validação foi discutida como um sinal de que o mundo virtual não pode — e não deve — substituir o real, onde regras, convivência e a resolução de conflitos são fundamentais.

Por fim, a psicanalista destacou os quatro prejuízos centrais apontados por Haidt como consequência da hiperconexão na infância: privação social, privação de sono, atenção fragmentada e vício. Para Beatriz, não se trata de culpabilizar a tecnologia, mas de aprender a utilizá-la de maneira mais consciente, recuperando o sentido do brincar criativo e garantindo que crianças e adolescentes cresçam em ambientes que favoreçam o desenvolvimento saudável, a autonomia e a convivência verdadeira.

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