O crescimento considerável de oferta de crédito que a Caixa Econômica registra nos resultados do terceiro trimestre do ano aponta para a instrumentalização do banco pelo atual governo, na tentativa frustrada de reeleger Bolsonaro, segundo os números oficiais divulgados nesta quarta-feira (9).
Em doze meses, a Carteira de Crédito Ampliada do banco público teve alta de 16%, totalizando R$ 977 bilhões, com destaque para as operações comerciais com pessoas físicas que cresceram 22,6% e totalizaram R$ 133,6 bilhões.
No período pré-eleitoral, a Caixa apresentou uma abertura dos cofres muito diferente do observado nos anos anteriores do governo atual.
O movimento sindical sempre defendeu uma Caixa indutora do desenvolvimento, que empresta mais às classes B, C e D, microempreendedores e pequenos empresários.
Mas, a forma como isso ocorreu em tão curto período de tempo e diante da corrida eleitoral, preocupa. Exemplo do controverso é o consignado para os beneficiários do Auxílio Brasil, que atingiu R$ 5,5 bilhões de crédito até novembro, só na Caixa.
Essa movimentação que disponibilizou dinheiro para o mercado em quantidades consideráveis em curto espaço de tempo resultou, inclusive, em uma mudança significativa do Índice de Liquidez de Curto Prazo (RCL) que, em setembro de 2022, foi de 176% ante os 295,6% em setembro do ano anterior, o que aproxima a Caixa do índice registrado pelos maiores bancos privados, de cerca de 150%.
Matemágica – Além da oferta de crédito ampliada em tempo de eleição, Rafael destacou a falta de planejamento da atual gestão.
Durante esse período delicado, onde os bancários se colocaram na linha de frente para não deixar de atender ao país e pessoas que mais precisam, o que contribuiu para que centenas de vidas de bancárias e bancários fossem ceifadas, os representantes do primeiro escalão do banco usaram a mídia para se gabar de resultados positivos, conquistados, em grande medida, a pressão exagerada sobre os trabalhadores.
Isso é o que se chama de ‘gestão do banco da matemágica’, termo que faz alusão às frases do ex-presidente [afastado por denúncias de assédio] Pedro Guimarães, sobre ser eficiente, denominando a Caixa como ‘banco da matemática’. Cada dia trabalhado nessa gestão foi um sufoco.
Apesar dos resultados positivos no balanço recente, as entidades que representam os trabalhadores da Caixa seguem registrando casos “de assédio moral”, onde os bancários trabalham em um estado de “pandemônio diário, sem saber o que a diretoria quer, com alterações bruscas e constantes de metas que extrapolam qualquer nível de tolerância aceitável e de forma jamais vista em nossa história.
Em paralelo a esse cenário, sistemas não funcionam, computadores e terminais de autoatendimento frequentemente apresentam problemas.
Outros dados – No segmento de pessoas jurídicas, o crescimento de crédito comercial nos últimos dozes meses foi de 10,9% em relação ao mesmo período de 2021, totalizando R$ 89,7 bilhões, com relevo para as linhas voltadas às micro e pequenas empresas (R$ 57,5 bilhões). No balanço trimestral da Caixa, ocorre destaque também para o segmento de agronegócio, onde o aumento do crédito foi de 227,4%, totalizando R$ 40,3 bilhões.
As demonstrações financeiras apontam ainda que, nos nove primeiros meses do ano, a Caixa apresentou lucro líquido de R$ 7,6 bilhões, com diminuição de 45,9% em relação ao mesmo período do ano subsequente.
Deste total, R$ 443 milhões foram resultado de receitas provenientes do desreconhecimento do passivo de juros e atualização monetária (contrato nº 504/PGFN/CAF), referente a devolução de valores de IHCDs (Instrumento Híbrido de Capital e Dívida) para o tesouro. Já a rentabilidade sobre o patrimônio líquido do banco (ROE) ficou em 9,23%, com decréscimo de 10,6 pontos percentuais (p.p.).
Confira aqui os destaques completos do balanço, apontados pela equipe da Subseção do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) na Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT).
Dedicação dos bancários – Em artigo de análise sobre os resultados recentes, a representante dos trabalhadores no Conselho de Administração da Caixa, Rita Serrano, ponderou que “mesmo em meio a ampliação drástica de denúncias de casos de assédio moral e sexual (…) e aumento nos afastamentos médicos na ordem de 45% no mesmo período; (…) mesmo em meio a pandemia, sofrendo pressão de todo tipo; os empregados da Caixa continuam na linha de frente atendendo milhões de clientes e de brasileiros e brasileiras desamparados pela crise social e econômica que o país atravessa. O compromisso com a gestão pública, expertise e dedicação são a marca dos trabalhadores da Caixa, que merecem respeito e valorização”.
“Trabalhar duro nunca foi problema para nenhum bancário da Caixa”, completou Rafael Castro. “No futuro próximo, esperamos da gestão do banco diálogo, respeito e valorização dos trabalhadores. Queremos ser ouvidos e ajudar na reconstrução da Caixa que o Brasil precisa, porque conhecemos a realidade, as necessidades e as possibilidades de crescimento de fluxos e operações do banco, para apoiar no projeto de fortalecimento das empresas públicas em favor do desenvolvimento do país”, concluiu.