Relatório do governo Temer na ONU é distante da realidade

11/05 – 11:50

“;Vi o relatório apresentado pela ministra e fiquei me questionando: esse documento é do Brasil ou do Pa ís das Maravilhas? “;, disse o deputado Paulo Fernando dos Santos (PT-AL)

São Paulo -; Ativistas, membros de movimentos sociais, parlamentares e representantes de organizações da sociedade civil criticaram duramente o relatório sobre a situação de direitos no Brasil, apresentado pelo governo de Michel Temer para a ONU na sexta-feira 5, em sessão que reuniu representantes dos 193 pa íses-membros das Nações Unidas. Para eles, o documento está distante da realidade, assume compromissos vagos e não aborda de maneira efetiva temas cr íticos do pa ís, como o desastre ambiental de Mariana (MG), a demarcação de terras ind ígenas e a violência policial. Leia texto original da Rede Brasil Atual.

O grupo de trabalho da Revisão Periódica Universal (RPU) da ONU apresentou relatório sobre direitos humanos no Brasil para a comunidade internacional em Genebra, na Su íça. A Organização das Nações Unidas denunciou temas como falhas nas pol íticas de combate à discriminação e ao trabalho escravo, além da ineficiência nas ações para garantia de direitos de pessoas presas e do elevado número de pessoas encarceradas no pa ís.

O Brasil recebeu recomendações de 109 pa íses sobre temas importantes relacionados a direitos humanos e a ministra da área, Luislinda Valois, apresentou o relatório oficial do pa ís -; que foi redigido duas vezes, devido a cr íticas de movimentos sociais para a primeira versão. Segundo o documento do governo, o pa ís destacou ações que estão sendo tomadas para garantir segurança alimentar, direitos dos povos ind ígenas, combate a discriminação, violações do sistema carcerário, entre outros temas, além de assumir o compromisso de reduzir em 10% a população carcerária até 2019.

“;Essa redução é t ímida diante do encarceramento em massa do pa ís, que tem a quarta maior população carcerária do mundo. Talvez, em 2019, reduzir 10% da população carcerária seja voltar ao total que temos hoje. Além disso, não foram discutidas medidas concretas de como isso vai ser alcançado. O desencarceramento depende da necessidade de uma revisão da lei de drogas, de alternativas penais e do compromisso contra a redução da maioridade penal “;, disse a representante da Conectas Direitos Humanos, Pétalla Timo. “;Há um descolamento entre discurso diplomático apresentado e a realidade que a gente enfrenta. “;

O rompimento da barragem da Samarco, em Mariana, o mais grave desastre ambiental da história do pa ís, mereceu menos de 15 palavras no relatório oficial do governo brasileiro. Outros temas importantes para o pa ís permaneceram fora do documento final, como a repressão policial em protestos e a aprovação da Emenda Constitucional 95, que congela o investimento público em áreas como saúde e educação pelos próximos 20 anos.

“;Vi o relatório apresentado pela ministra e fiquei me questionando: esse documento é do Brasil ou do Pa ís das Maravilhas? “;, disse o deputado Paulo Fernando dos Santos (PT-AL), presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados (CDHM), que assistiu à audiência em Genebra. “;Aquele relatório não representa o sentimento do povo brasileiro que no último dia 28 fez a maior greve do pa ís nos últimos 30 anos “;, afirmou, em um evento paralelo de avaliação o documento brasileiro, realizado por movimentos sociais após a sessão das Nações Unidas.

Liberdade de expressão – O parlamentar convidou um grupo de relatores da ONU, entre eles profissionais liados a liberdade de expressão e direitos dos povos ind ígenas, para uma missão para averiguar a situação de direitos humanos no Brasil. “;Como é poss ível implantar pol íticas públicas que vários pa íses recomendaram quando pol íticas de desenvolvimento regional tiveram redução de 81% do orçamento, moradia digna 56%, reforma agrária 52,6% igualdade racial 42,2% e direitos das mulheres 40%? O orçamento dos principais programas sociais reduziu 14%, a educação 10% e o Bolsa Fam ília 7,4% “;, destacou o deputado.

A revisão periódica é um processo único que envolve um exame da situação dos direitos humanos de todos os Estados-membros das Nações Unidas a cada quatro anos e meio. Todos os governos apresentaram relatórios mostrando as medidas que tomaram para promover recomendações feitas nas revisões anteriores e quais pol íticas adotaram para avançar na proteção aos direitos humanos.

A comunidade internacional chamou a atenção para problemas centrais no Brasil e houve menções de diversos pa íses aos programas Bolsa Fam ília, Minha Casa, Minha Vida e Mais Médicos, todos dos governos de Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff. Uma das pol íticas mais mencionadas foi o Plano Nacional de Educação, que prevê a aplicação de 10% do Produto Interno Bruto (PIB) para a área, mas que tem sua efetividade ameaçada pela Emenda Constitucional 95, que foi criticada por pa íses como Japão, a China e a áfrica do Sul.

“;Essa audiência na ONU é um instrumento de pressão social no território brasileiro fazendo com que governo Temer, que não dialoga com sociedade civil, tenha de responder também à comunidade internacional “;, disse o coordenador da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, Daniel Cara, que esteve em Genebra.

Pelo menos 30 pa íses fizeram recomendações ao Brasil sobre direitos dos povos ind ígenas. “;Os três poderes estão alinhados e aliados entre si para retroceder em direitos e atacar diretamente os povos ind ígenas, tendo como foco central a briga pelos territórios, além de mudanças na legislação para favorecer o agronegócio “;, disse a representante da Articulação dos Povos Ind ígenas do Brasil, Sônia Guajajara.

“;A gente continua pensando que a apresentação do Brasil não é do Brasil. Todos os itens apresentados como avanços são temas que o governo está tentando descontruir. Um delas é a demarcação de terras ind ígenas. O governo diz que nós temos gestão plena dos territórios, mas na prática temos a redução orçamento da Funai em 50%, loteamento dos seus cargos, que estão sendo entregues a partidos pol íticos, e ainda o corte de pelo menos 80 cargos de servidores “;, afirmou Sônia.

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