Comando cobra mais saúde e segurança, mas bancos não avançam

Foram dois dias de debates intensos. O Comando Nacional dos Bancários, coordenado pela Contraf-CUT, apresentou à Fenaban vários dados e situações enfrentadas pelos bancários que comprovam a necessidade de melhorias nas condições de trabalho, mais segurança e respeito à saúde dos trabalhadores. Mas os bancos trataram as reivindicações sem o empenho que merecem e a segunda rodada de negociação da Campanha 2015, nesta quarta (2) e quinta-feira (3), em São Paulo, terminou sem propostas concretas para resolver os graves problemas.

Saúde
O Comando Nacional mostrou pesquisas do Dieese, com base nos dados do INSS, as quais evidenciam a relação da rotina estressante de trabalho com os adoecimentos. Os casos de transtornos mentais e comportamentais estão crescendo muito mais rapidamente na categoria bancária e já superam os adoecimentos relativos a LER/Dort. Entre janeiro e março do ano passado, 4.423 bancários foram afastados do trabalho, sendo 25,3% por lesões por esforços repetitivos e distúrbios osteomusculares e 26,1% por doenças como depressão, estresse e s índrome do pânico.

O INSS ainda não divulgou os dados do ano todo de 2014 sobre o setor, mas em 2009 foram 2957 afastamentos por transtornos mentais e comportamentais. Já em 2013, os números saltaram para 5042. Um crescimento de 70,5%. No mesmo per íodo, nas outras categorias, o aumento foi de 19,4%.

Metas abusivas e assédio moral
O fim das metas abusivas e combate ao assédio moral estão entre as principais reivindicações da categoria. Os bancos reconheceram que pode haver excessos no modo de cobrança por parte de alguns gestores, mas não concordaram com a reivindicação do Comando para que as metas sejam estabelecidas com a participação dos trabalhadores, com critérios para a estipulação, levando em conta o porte da unidade, a região de localização, número de empregados e carteira de clientes.

Pressionada, a Fenaban resolveu atender algumas das reivindicações de combate ao assédio moral. Assumiu o compromisso de avaliar a possibilidade do empregado pedir transferência para outra unidade, quando for comprovadamente assediado. Assim como informar as soluções dadas aos casos de assédio moral apurados também pelos canais internos dos bancos. Os trabalhadores cobraram mais rapidez. Atualmente, os bancos têm 45 dias para este retorno, mas a Fenaban não aceitou reduzir o prazo.

Outro não dos bancos foi quando à reivindicação de que garantam aos empregados a participação nos exames e procedimentos previstos no Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO), cumprindo na integralidade as disposições da Convenção 161 da OIT, que assegura a participação dos trabalhadores nas questões que tratam da saúde laboral.

Isonomia de direitos e reabilitação
Mais um problema enfrentado pela categoria é a manutenção de direitos para os bancários afastados por acidente de trabalho e motivo de saúde. A reivindicação é que diferença entre benef ício recebido do INSS e o salário seja paga pelos bancos.
Os banqueiros responderam que já há várias cláusulas na Convenção Coletiva de Trabalho (CCT) que tratam de ressarcimento de diferenças e que não querem nada de novo relativo ao tema.
O Comando Nacional também fez duras cr íticas aos programas de reabilitação profissional desenvolvidos pelos bancos, cuja elaboração também não conta com a participação dos trabalhadores. São constantes as reclamações recebidas pelos sindicatos revelando que os funcionários são mal atendidos pelo gestor, ou mesmo pelo banco, no retorno ao trabalho

Mais um agravante para o movimento sindical é a revalidação que os bancos estão fazendo dos atestados médicos dos trabalhadores, colocando em xeque a idoneidade do bancário.
Diante dos problemas, a Fenaban concordou em marcar novas reuniões com os dirigentes sindicais para debater o tema de saúde, antes do encerramento da Campanha Nacional 2015.

Segurança
Além da pressão por resultados, metas abusivas e assédio moral, os bancários também convivem com a insegurança nos locais de trabalho. Levantamento realizado pela Contraf-CUT e pela Confederação Nacional dos Vigilantes (CNTV), com apoio técnico do Dieese, aponta que 66 pessoas foram assassinadas em assaltos envolvendo bancos em 2014, uma média de 5,5 v ítimas fatais por mês. Os ataques a agências e caixas eletrônicos também viraram manchetes diárias nos jornais pelo Pa ís. Foram 3.150 ocorrências no ano passado, com uma média assustadora de 8,63 por dia.

O Comando Nacional cobra melhores condições de segurança para bancários, clientes e assistência às v ítimas de assaltos, sequestros e extorsão, com atendimento médico e psicológico não só ao empregado, mas também à fam ília do funcionário.

Os bancários querem que os bancos sejam obrigados a emitir a Comunicação de Acidente de Trabalho (CAT) sobre todos os casos de tentativa ou de assalto consumado, assim como o Boletim de Ocorrência(BO).
Como medida de prevenção aos assaltos, o Comando Nacional solicita o fim da guarda das chaves por funcionários e que empresas de segurança privada sejam contratadas para o trabalho. A Fenaban também não aceitou, alegando que qualquer pessoa pode ser v ítima da violência.

Projeto-piloto
Para reduzir a violência, os bancários querem a implantação, em todo o Pa ís, dos equipamentos e medidas que fizeram do projeto-piloto de segurança. O projeto é uma conquista da Campanha 2012. Foi implantado durante um ano, entre agosto de 2013 e agosto de 2014, em Recife, Olinda e Jaboatão de Guararapes e testou a eficácia de itens que o movimento sindical julga serem necessários para garantir segurança.

Houve a instalação, nas agências, de porta giratória com detector de metais câmeras internas e externas, biombos em frente aos caixas, guarda-volumes e vigilantes armados e com coletes bal ísticos, além de cofre com dispositivo de retardo.

Segundo dados da Secretaria de Defesa Social de Pernambuco, o número de roubo a bancos caiu pela metade (de 16 para 8) nas cidades do projeto. entre janeiro e junho de 2014, em comparação com o mesmo per íodo de 2013. O número de arrombamentos teve uma queda de 41,8%, caindo de 110 em 2013 para 64 em 2014. Em relação à “saidinha de banco”, o número de registros em Olinda caiu 46,4%.

Mas os bancos se recusaram, novamente, a replicar estes equipamentos para todo Brasil, preferindo continuar com os projetos-pilotos. Concordaram, apenas, em testar as medidas em outras duas regiões.

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