O interesse dos bancos chineses pelo Brasil se intensificou ao final de 2012 com a autorização concedida pelo Banco Central brasileiro e chinês ao Industrial Commercial Bank of China (ICBC). Segundo especialistas entrevistados pelo DCI, o ICBC, junto com o Banco da China, já operante desde 2009, foca no relacionamento comercial entre os pa íses, principalmente no financiamento das empresas chinesas com operações no Brasil. Os setores em destaque tendem a ser de infraestrutura e automobil ístico.
Dados do Banco Central, atualizados até novembro, demonstram que as operações de crédito no Brasil correspondem a 52,6% do Produto Interno Bruto (PIB), sendo que as instituições financeiras estrangeiras representam 8,7% dessa fatia, com saldo de R$ 380,880 bilhões, alta de 11% na comparação com o mesmo per íodo de 2011.
O maior percentual dos empréstimos, contudo, permanece com as instituições nacionais. Os bancos públicos ficam com 24,7% e os privados 19,2%.
O professor Adriano Gomes, da ESPM, diz que o sistema bancário brasileiro é ainda concentrado em cinco grandes instituições – Bradesco, Itaú Unibanco, Santander, Caixa Econômica Federal e Banco do Brasil. Dessa forma, há espaço para a entrada de marcas mundiais. “Um mercado considerado como a sétima economia mundial tem espaço para a entrada de novas bandeiras.”
A autorização foi concedida em 19 de dezembro de 2012 e segundo comunicado disponibilizado pelo próprio banco, a subsidiária brasileira chamará ICBC Brasil, com capital inicial de R$ 202,100 milhões, o equivalente a US$ 100 milhões. O escopo de negócios inclui banco comercial, de investimento e prestação de serviços de câmbio. Há rumores ainda sobre a compra de um prédio na Avenida Faria Lima, em São Paulo, para o escritório.
O ICBC é a maior instituição financeira chinesa e, até setembro de 2012, acumulava US$ 2,7 trilhões em ativos. No critério valor de mercado, o banco é o l íder global, com US$ 240 bilhões.
Desde maio de 2009, já está em operação o Banco da China Brasil. A instituição possui uma agência e um escritório em São Paulo, com 41 funcionários e quatro diretores.
Daniel Lau, diretor da unidade chinesa da KPMG no Brasil, explica que a relação de comércio exterior e de investimentos diretos e indiretos do pa ís asiático na China tem aumentado. “Não tem como os bancos ficarem alheios a esse movimento”.
Lau detalha que os cinco grandes bancos chineses tem controle estatal, mas que no pa ís existe uma concorrência de mercado igual a outros pa íses. “Não tem um mercado fechado e há, inclusive, bancos de outros pa íses, como o HSBC e Citibank. Mas no Brasil não chegam com um longo poder de fogo”.
Do ponto de vista do especialista, a vinda da maior instituição da China, o ICBC, é positiva e coloca no radar a vinda de outros bancos também. “Há uma concorrência interna e faz com que vá também para fora da China. E haverá também uma competição mais forte entre os dois que estarão por aqui”.
Segundo Lau, o ICBC possui mais de 30 operações fora do pa ís de origem e na América do Sul está presente na Argentina e Peru.
Marcello Gonella, professor da Universidade Anhembi Morumbi, concorda que o interesse aumenta com o volume de acordos e comércio bilateral e menciona a importância da exportação de commodities e de minério de ferro da Vale. “Acredito que vão participar do financiamento da infraestrutura, porque possuem um conhecimento muito grande, e da indústria automobil ística.”
Em 2012, a Jac Motors iniciou as obras para a fábrica de automóveis, na Bahia, e a Chery começou em 2011 a unidade fabril em Jacare í, interior de São Paulo.
O grande concorrente dos bancos chineses no mercado brasileiro, segundo Gonella, será o HSBC, que tem sede em Londres, mas possui origem e subsidiária em Hong Kong. “Dará mais segurança para os brasileiros e chineses em operações de financiamento ou gestão de ativos. Além disso, abre um pouco mais a concorrência de operações com a ásia, que antes eram dominadas pelo HSBC.”
Fonte: DCI