10/04/2017 – 18:00
A importância de BB, Caixa, BNDES, estaduais e a necessidade de resistir ao desmonte dessas instituições promovido pelo governo Temer foram destacados na mesa de abertura de seminário promovido pelo Sindicato de São Paulo
São Paulo -; O financiamento pelo Estado, por meio de bancos públicos, teve papel fundamental no desenvolvimento do Brasil a partir da segunda metade do século 20. A afirmação, do presidente do Clube de Engenharia, Pedro Celestino, sintetiza o debate na mesa de abertura do seminário Em Defesa dos Bancos Públicos, promovido pelo Sindicato na segunda-feira 10. “;Em 1964, ano do golpe militar, o Brasil era a 56ª economia do mundo e, ao longo das últimas décadas, tornou-se uma das 10 maiores economias do mundo. E isso que fizemos nos últimos 15 anos, que nos tornou respeitados, nos levou a criar os Brics, isso não poderia ter sido feito sem um sistema financeiro estatal forte, que financiou nosso desenvolvimento “;, disse.
Pedro Celestino lembrou que desde a independência até os anos 1950, a economia brasileira era voltada para o mercado externo e o pa ís ocupava o lugar de exportador de café e minérios. “;O nosso setor bancário era voltado para o câmbio, para as relações econômicas com o exterior porque a nossa economia se caracterizava por ser exportadora, e nosso mercado interno se restringia a São Paulo, Rio, Porto Alegre e algumas outras capitais. Isso começa a mudar nos anos 50, no governo Vargas que cria o então BNDE, cria a Petrobras porque era essencial ao Brasil reduzir sua dependência absoluta da importação de derivados de petróleo. E posteriormente a criação da Eletrobras. Não seria poss ível a contrução dessas duas empresas que se mostraram fundamentais para o pa ís se não houvesse o financiamento público através do BNDE. “;
Ele lembrou ainda que, já àquela época, como novamente agora com o golpe e o ataque aos bancos públicos promovido por Temer, se procurava “;impedir a transformação do Brasil de economia vinculada a interesses externos a um Brasil voltado para os brasileiros “;.
Fundamental para moradia -; O l íder do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), Guilherme Boulos, destacou a importância da Caixa para o financiamento habitacional dos mais pobres. “;Os bancos públicos são simplesmente a condição para uma pol ítica de habitação popular que atenda os mais pobres do Brasil. Financiamento baseado no lucro era historicamente a pol ítica habitacional no Brasil, era o BNH. Isso gerou um passivo de 6,6 milhões de fam ílias sem moradia, mais de 20 milhões de pessoas, 84% delas com renda mensal inferior a três salários m ínimos. Essas pessoas não têm acesso a crédito imobiliário, elas não passam nem da porta da agência bancária. Portanto, financiamento habitacional tem que se basear no subs ídio, essa é a única forma de combater o déficit habitacional no Brasil. Ou o Estado financia com subs ídio, ou não tem moradia popular no pa ís “;, afirmou.
Boulos citou o papel da Caixa, como operadora do programa Minha Casa, Minha Vida, criado em 2009 no governo Lula, que subsidiou moradia para fam ílias mais pobres -; a Faixa 1 do programa financia casas próprias para fam ílias com renda mensal de até R$ 1.800. E lembrou que a Faixa 1 foi suspensa no governo Temer e só foi retomada, ainda de maneira insuficiente, após luta do movimento por moradia, que ficou semanas acampado na Avenida Paulista, em fevereiro deste ano. “;A luta pela defesa dos bancos públicos, contra a privataria e para garantir que essas instituições sejam instrumento para pol íticas sociais não é apenas dos bancários, é dos sem teto, é de todos os trabalhadores brasileiros, e essa luta nós vamos travar ombro a ombro “;, concluiu, lembrando a greve geral convocada para 28 de abril.
Ganhos na educação -; A presidenta da União Nacional dos Estudantes (UNE), Carina Vitral, ressaltou, por sua vez, a importância de BB e Caixa para o financiamento estudantil. “;Eu e o Guilherme [Boulos] somos lideranças de categorias que necessitam dos bancos públicos, por causa de programas sociais como Fies e Minha Casa, Minha Vida. No governo Dilma chegamos a ter 1 milhão de contratos ao ano através do financiamento estudantil , a juros baixos, desburocratizado. “;
Segundo Carina Vitral, os interesses por trás do golpe que derrubou uma presidenta legitimamente eleita ficam cada vez mais claros. “;Os bancos públicos sofrem franco ataque, numa conjuntura pol ítica de instabilidade fruto de um golpe parlamentar. E todo esse retrocesso só é poss ível como fruto de um golpe, nem FHC conseguiu. No meio de uma crise econômica do capitalismo, o imperialismo teve que mostrar suas garras na América Latina “;, disse, lembrando Paraguai e Honduras. “;Não é a toa que o fundo desse golpe tenha os ataques à Petrobras logo após a gente ter descoberto uma de nossas maiores riquezas, o pré-sal. “;
O presidente da Central única dos Trabalhadores (CUT), Vagner Freitas, afirmou que nenhuma nação no mundo se desenvolveu sem o financiamento do Estado. “;Os banqueiros foram um dos principais financiadores do golpe porque não se contentam em disputar apenas 50% do mercado financeiro [os bancos públicos detêm os outros 50%]. Acham mesmo que Bradesco, Itaú e Santander querem disputar só a metade do mercado? E eles [os banqueiros] não podiam fazer isso nos governos populares, então financiaram o golpe. Além do sucateamento da Petrobras, outro projeto do golpe é a privatização do BB, da Caixa e do BNDES “;, destacou Vagner, apontando para a necessidade de resistir.
A presidenta do Sindicato, Juvandia Moreira, que mediou a mesa, lembrou que a resistência ao desmonte dos bancos públicos é a função do seminário, evento que lançará a cartilha Em Defesa dos Bancos Públicos: Verdades e Mentiras, elaborada pelo Sindicato em parceria com os economistas João Sicsú e Antonio Alves Júnior. “;Estamos vivendo uma conjuntura de desmonte do Estado e estamos tendo de lutar para garantir as conquistas e os avanços que tivemos nos últimos anos de governos populares. Vivemos isso na década de 1990 e estamos voltando a isso. “;