Há quase 30 anos, precisamente no dia 1/12/82, Leandro Martins Alves pisava os pés, pela primeira vez, no Banco do Brasil, como engenheiro.
Na sexta-feira 12 de outubro, Alves abriu as portas do primeiro banco brasileiro a operar integralmente como uma instituição financeira nos Estados Unidos com serviço local, oferecendo conta bancária, cartão de credito, cartão de débito, acesso a 50 mil caixas eletrônicos, ou terminais de autoatendimento, conhecidos aqui como ATMs, e, logo terá financiamento imobiliário, entre outros produtos.
O objetivo principal da instituição é atender as necessidades da grande concentração de brasileiros na Flórida, na faixa de 300 mil, com perfil de renda diversificado, desde o trabalhador que veio “fazer América” ao estudante, o aposentado e o turista, de passagem.
“Você tem toda uma estratégia, o mais abrangente poss ível”, diz Alves, hoje com 51 anos e o primeiro presidente e CEO do Banco do Brasil Américas.
O BB Américas comprou por US$6 milhões o EuroBank, um pequeno banco comunitário, que no in ício do ano apresentava fragilidades financeiras. Com isso, o Federal Deposit Insurance Corporation, entidade que supervisiona o sistema bancário americano, limitou a ampliação de ativos e passivos, impedindo a atuação integral do Banco do Brasil aqui.
Desde então, o Banco do Brasil injetou US$49,5 milhões para reforçar o capital, demonstrando a força da instituição.
E assim o Banco do Brasil Américas passou a ser reconhecido pelas autoridades americanas como um banco sólido e saudável e abriu as portas oficialmente para o público ontem.
“Isso nos permite agora crescer e desenvolver com um grau de liberdade muito maior do que anteriormente”, diz o CEO, que informou às autoridades americanas sua estratégia de crescimento: de menos de dois mil para 100 mil clientes até 2020 e a abertura de 16 agências nos Estados Unidos nos próximos cinco anos.
Hoje o banco tem três agências: em Coral Gables, Pompano Beach e Boca Raton. Em janeiro, a agência de Coral Gables, onde fica a sede, estará se mudando para um local mais amplo na região da Brickell, que é o centro financeiro de Miami, e a quarta agência deve ser aberta em Orlando.
“Você vai poder passar numa máquina de autoatendimento do BB Américas e tirar o seu dinheiro para visitar o Pato Donald e o Mickey Mouse”, diz Alves.
Como em qualquer banco americano, o cliente aqui vai ter que apresentar dois documentos que comprovam identidade e um comprovante de endereço para abrir uma conta corrente. O diferencial será no histórico de crédito, essencial para qualquer empréstimo ou financiamento nos Estados Unidos.
“Ninguém conhece esse brasileiro como nós. Ninguém vai conseguir fazer uma avaliação da capacidade de pagamento ou da visão de risco desse cliente tão bem quanto nós”, diz Alves. “Acho que é isso que a comunidade pode esperar dessa nossa chegada aqui na Flórida”.
Independentemente das condições financeiras no Brasil, quando o imigrante chega aqui, ele normalmente leva alguns anos para construir um histórico de crédito, dentro da estrutura financeira do pa ís: sem crédito, não se tem d ívidas, e sem d ívidas não se consegue crédito para pegar um financiamento para um carro ou um imóvel, por exemplo.
“Temos a possibilidade de ir ao Brasil e recuperar um pouco dessa memória do histórico de investimentos desse brasileiro no seu pais de origem, que é o Brasil”, diz Alves. “Isso faz com que, diferentemente de outras instituições, nós possamos, de alguma forma, sob jargão bancário, assumir o risco desse indiv íduo, desse novo cliente, porque nós já conhecemos o seu histórico em relação ao Brasil”.
Isso vai agilizar a vida e ciclo financeiro do brasileiro aqui, assim como o fluxo de remessas entre os dois pa íses.
“Queremos buscar essa conectividade entre o Brasil e Estados Unidos de forma que o brasileiro que aqui está possa mandar dinheiro para o Brasil de uma maneira barata, simples e direta e que esse dinheiro possa vir do Brasil para os Estados Unidos de uma forma simples”, diz Alves. “Vamos obviamente ter tarifas adequadas, condizentes, competitivas e pode ter certeza de que o que nós pudermos fazer, inclusive conversar com nossas autoridades com vista a facilitar esse processo, nós faremos. Acho que essa própria entrada do BB aqui pode gerar alguns aprimoramentos dos processos hoje existentes”.
Alves diz que espera, em breve, estar atendendo também brasileiros interessados em adquirir um imóvel aqui com a facilidade de financiamento de longo prazo.
“Nesse lançamento, focamos em produtos mais urgentes para nossa comunidade, que é conta corrente, cartão de credito e a poupança. O financiamento imobiliário vem à frente”, diz ele. “Temos uma grande preocupação com brasileiros aqui residentes, mas também trabalharemos com os brasileiros que vivem lá no Brasil e tem interesse em comprar imóveis aqui nos Estados Unidos”.
Gaúcho, Alves passou por várias cidades do Brasil antes de chegar em Nova York, em 2006, com a esposa e três filhos, como gerente regional para coordenar a operação do BB na América do Norte.
Seu maior desafio foi a adaptação pessoal num novo pa ís.
“Na chegada é sempre um processo muito mais dif ícil do que as pessoas imaginam, mesmo numa cidade maravilhosa como Nova York ou uma cidade maravilhosa como Miami. Você não tem referência”, diz ele. “A ambientação cultural não é um processo simples. Você não sabe o que comprar no supermercado. Você tem que aprender algumas coisas, começando pela l íngua. Por mais que fale inglês, não é a mesma coisa. Meu filho mais novo não entendia absolutamente nada”.
Hoje, sua filha, com 26 anos, está de volta no Brasil, e os outros dois, 18 e 20, estão na faculdade, um em Maryland e outro na Pensilvânia.
“Acho que minha responsabilidade como pai é de conseguir fazer com que os meus filhos sejam melhores, sob todos os aspectos, do que eu fui”, diz Alves, que mora hoje em Sunny Isles com a esposa e recebe os filhos na época das férias.
Alves diz que o grande segredo do sucesso é “muito trabalho, muita dedicação e muito foco”.
“Para ter sucesso, você tem que ter bastante clareza de onde quer chegar, mas tem que acreditar muito nas pessoas. Acho que quem faz as empresas são as pessoas”, diz ele “O sucesso para mim é saber que você está conseguindo agregar valor, conseguindo fazer alguma diferença e que, de alguma forma, isso seja percebido pelas pessoas”.
Fonte: Portal Ig